segunda-feira, 2 de junho de 2008

Resenha - A door into ocean


"A Door into Ocean" é um livro publicado em 1986 e escrito por Joan Slonczewski. Infelizmente ele nunca foi publicado no Brasil, acabei de descobrir isso... Mas quem quiser e souber pode ler ele em inglês. Aqui está um sebo brasileiro que vende ele...


O livro é sobre o conflito entre dois planetas, Valan (similar ao nosso) e Shora. OS dois planetas completamente distintos entram em conflito quando os valans querem dominar Shora seguindo ordens do Patriarca (chefe do universo). Porém, Shora não é um planeta comum. Inteiramente coberto de água, o planeta é o lar das Sharers (em português, as que dividem). Elas são mulheres azuis (devido à ação microbiótica) e carecas, que tem pés e mãos de pato e somente se reproduzem com a autorização do Gathering (conselho) e assistência dos lifeshapers (equivalente aos médicos).

Além de sua aparência estranha, as sharers têm um modo singular de encarar a vida. Elas não conhecem o medo. Isso fica mais do que explicitado quando Shora é invadida pro soldados valans que pretendem governar o mundo na base da violência e através do medo.

A disparidade entre os soldados, principalmente o general em comando, Realgar, é incrível. Enquanto ele tenta de todos os modos incutir o medo e a raiva no coração das Sharers de modo a justificar sua guerra contra mulheres e crianças, as sharers passam o livro tentando entender porque essas pessoas (que agem como crianças) fazem tanto mal a outros seres humanos.

A autora usa a ficção científica que inclui planetas, tecnologia avançada e robôs para falar de algo muito mais profundo. O medo do ser humano. Não é uma temática nova ou reveladora, mas a forma com que é tratado é intensamente emocional. Um povo sem medo (medo de morrer, de tortura, de perder amados) pode ser dizimado por outro que teme tudo?

A própria atitude de não-violência e não-medo das sharers lembra a de Gandhi, que liderou o povo indiano a se libertar dos ingleses. Quem teme não é livre, deve fazer o que não acredita devido a esse medo. Soldados temem seus superiores, temem a morte e temem seus oponentes. Todo esse medo os torna fracos incapazes de sacrificar tudo por uma causa.

Já as sharers pensam de outra forma. A morte virá para todos e ela faz parte do equilíbrio da população e do mundo. Oponentes também têm seu lugar no equilíbrio do sistema e elas desconhecem o conceito de alguém fazer suas escolhas por você. A falta de medo as torna fortes e invencíveis.

Por outro lado elas têm uma responsabilidade moral que é desnecessária na vida dos valans, ingleses ou para nós. Sua cultura exige que cada sharer, ao atingir a maturidade, escolha um self-name (algo como auto-nome). Esse self-name é sempre o aspecto negativo da pessoa. Alguns exemplos são: a impaciente, a que não se importa o impulsivo etc. E após escolher o nome, passam a vida tentando superá-los.

Essa busca pela perfeição gera um estresse e tensão que nós (crianças aos olhos delas) não sofremos. O livro é uma obra prima da Ficção Científica e é uma reflexão profunda sobre o medo. Imperdível.


Quem quiser saber mais sobre o livro:

Explicação e guia de estudos do livro. É assustadoramente completo.


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