quinta-feira, 29 de maio de 2008

Muito além do LivroLivre


Só para todo mundo ver que o livrolivre existe no resto do mundo e funciona, minha amiga, Elisa Granha, estudante de Ciências Biológicas, escreveu sobre a sua experiência nos EUA.

Nesse último verão tive a oportunidade de trabalhar na ilha de Key West, a cidade mais ao sul dos EUA. Muitas diferenças culturais me chamaram a atenção e uma delas foi o fato de que na rua encontrávamos diferentes bens de consumo disponíveis: mesas, sofás, televisões, livros, etc. Eu já tinha um conhecimento prévio desse hábito, mas nunca tinha imaginado que os livros também se incluíam entre tais bens.

No Brasil, estamos acostumados a comprar livros e, após lê-los, guardá-los em mini-bibliotecas pessoais que são verdadeiros cemitérios de conhecimento. Nessa minha experiência intercambista, tive a chance de vivenciar uma prática muito mais racional e interessante, à medida que ela oferecia a outras pessoas a possibilidade de também se deleitarem com alguma obra que tivéssemos apreciado previamente.

Um dia qualquer tinha acabado de acordar quando dei de cara com uma amiga minha, que morava comigo em Key West, entrando em casa com diversos livros na mão. Alguns deles eram até de autores famosos como Stephen King e Agatha Christie. Ela os havia encontrado abandonados em frente a uma antiga casa de Hemingway, a qual é um dos pontos turísticos da cidade. Logo que me aprontei dei uma passadinha por tal lugar na esperança de ainda encontrar algum livro. O único livro que achei em frente a tal casa estava na mão de um mendigo, o qual o lia feliz da vida. Essa é outra grande diferença entre Brasil e EUA, as pessoas que vivem na rua lá são frequentemente vistas lendo tanto na rua quanto em bibliotecas.

A primeira vez que achei um livro entregado à própria sorte foi no primeiro dia de 2008. Tinha esquecido que era feriado e estava rumando para a biblioteca. Apesar de ter encontrado esta fechada, no caminho tive a sorte de me deparar com uma estante. Sim! Uma estante em plena rua repleta de livros e filmes também.

A facilidade de se obter livros nos EUA não é apenas observada nas ruas, na biblioteca também se vendia livros doados, sendo que o dinheiro arrecadado com os mesmos era usado para ajudar essa instituição. Lá livros como Harry Potter e as Relíquias da Morte e Código da Vinci, super preservados e originais, não passavam de doze reais. Além disso, a biblioteca também organizava uma feira gigante de livros, DVDs, CDs, VHSs e até discos de vinil. Nesse evento os preços variavam de 25 cents a um dólar. Comprei Freakonomics por um dólar e alguns livros de gramática francesa, os quais eu gostaria de ter comprado ainda no Brasil. Entretanto, aqui eram mais de cinqüenta reais e lá cinqüenta cents. Assim, é fácil entender o porquê dessa grande discrepância entre os índices de leitura per capita brasileiros e de países desenvolvidos.

Seria muito interessante se nós também começássemos a fazer esses tipos de ações. Ao invés do ciúme por nossos livros e o culto à virgindade estética eterna dos mesmos, uma maior oportunidade de leitura para todos. No final, o que mais trouxe em minhas malas foram livros para mim, minha família e meus amigos. Então da próxima vez que lermos um livro é bom nos perguntarmos sobre o quê é melhor fazer: “Pôr ele na estante ou passá-lo adiante?”


Quem tiver interesse em contar sobre sua experiência com a literatura alternativa ou escrever sobre algum livro que gostou pode mandar o texto para flavia.denise@gmail.com

5 comentários:

JOÃO RENATO disse...

Incrível. Fiquei pensando nessa feira da biblioteca, as raridades à venda... e os mendigos lendo... Na opinião da blogueira, o que falta para o Brasil chegar a este nível? Livros baratos? Educação? Incentivo à leitura? Ou uma combinação disso tudo?

Flávia Denise de Magalhães disse...

Acho que o Brasil ainda está longe, muito longe, de ter mendigos que passam o dia lendo. Ainda tem muito analfabeto no país, e se a gente contar os que só sabem assinar o nome, esse número aumenta ainda mais. Pra ter quem leia, nós temos que ter quem saiba ler.


Isto dito, acho que precisamos de livros baratos e incentivo a leitura.

Livros baratos por dois motivos: Primeiro porque eles ficariam mais acessíveis. Segundo porque livros baratos são menos bonitos (os livros brasileiros são super caros também pq eles são bem feitos). Dá muito menos dó libertar um livro de papel-jornal que custa 5 reais do que a edição deluxe numerada, capa dura, borda dourada de 100 reais do Tolkien.

Já a incentivo a leitura é necessário porque hoje ainda tem muita gente que acha que é vantagem dizer que lê um livro por semestre. Isso é muito pouco, e é triste uma pessoa ficar feliz por ser ignorante... Esse tipo de gente passaria sem nem piscar diante de uma pilha de livros de graça..

Harlei Cursino Vieira disse...

Gostei muito do seu blog! Se quiser mandar algum livro prá mim, meu endereço é: QNM 34 Conj. H Casa 26, Cep:72145-408, M Norte-DF. Se quiser mandar algum livro pro meu amigo e primo: Marciano José Apolinário, o endereço dele é perto do seu: Rua Santos, 1843;Bairro: Jardim América, Belo Horizonte-MG. Fique com Deus!

Kaléu Caminha disse...

Fantástico Flávia.

Não imaginava realmente que isso existisse.
Fico muito feliz com essa informação.

E me despertou um outro ponto que me interessa bastante, a produção de livros Livres (Creative Commons).

Bibliotecas on-line poderiam facilitar em muito o acesso a cultura (a democratização da cultura) e passar um pouquinho dessa experiência da etsante (acredito que difícil de ser implementada por aqui..)..

Mas muito interessante mesmo seu post..está indo pro meu RSS..
parabéns..

Unknown disse...

No Brasil, livro é luxo. Edições muito caras, sem alternativas, porque brasileiro não mete a mão em 'paperback'. Mas lendo o seu post foi possível ver um outro porque desses livros serem abandonados [excessão para Hemingway]: são meia-boca mesmo, do tipo leia e deixe na rua.