segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Livro de graça na Praça


De graça até injeção na testa e ônibus errado. Foi com esse pensamento que fiquei ao sair do Livro de graça na praça. Não que os livros fossem ruins, mal tive a chance de vê-los, mas porque a organização do evento foi desastrosa. Quando cheguei ao evento, às 10h, todos que queriam livros estavam muito bem organizados em uma fila longilínea. Conversei com algumas pessoas da organização que me explicaram: "Quem quiser o livro entra na fila que a gente está entregando na fila mesmo, quem quiser o autógrafo dos escritores fica na fila que ela vai lá". Tudo parecia estar funcionando de acordo com o plano deles. Pessoas na fila tinham livros na mão e pessoas que pegavam o autógrafo calmamente sentavam e começavam a ler o livro recém adquirido nos bancos da praça.

Porém, por volta das 11h, a desorganização começou a reinar a fila. Tudo começou quando uma pessoa, que estava na organização, passou pela fila avisando que a distribuição havia acabado pois não havia mais livros. Como a tenda que guardava os livros era aberta, qualquer um podia ver que ainda havia muitos livros ali e todos que saíram da fila, se aglomeraram em torno da pequena barraca aonde estavam os escritores e os livros. Para aumentar a desordem, um dos idealizadores do evento, José Mauro da Costa, decidiu entregar exemplares para quem estava aglomerado em volta da barraca, dando para uns e não dando para outros os livros que tinha em mãos.

Com isso, o número de pessoas em volta da barraca aumentou e as pessoas que ainda estavam na fila começaram a fazer uma revolta própria. Coros pedindo fila, crianças e idosos sendo descartados e empurrados, organizadores em pânico. Acredito que a única pessoa que estava se divertindo com o evento foi Tereza Mata Machado, 91 anos, que com a ajuda do filho entrou no começo da fila, no auge da desordem, e quando perguntada sobre o que achava do evento, respondeu: "Tá boa, tá boa a confusão!" (canto inferior direito da foto)

Ao entrevistar quem estava na fila eu não pude deixar de perceber que quanto mais longe da barraca de distribuição, mais calma a pessoa estava. Gabriel Lélis e Andréa Ferreira são duas dessas pessoas. Já haviam chegado à metade da fila e tinham, cada um, um livro na mão. Eles já estavam na fila há 1h10, mas ainda acreditavam que o esforço valia a pena para conseguir um livro de graça. "Eles têm consciência política e social. O livro é uma mercadoria no Brasil, com um bom livro um pai de família compra três camisas para seu filho. O que você acha que ele vai escolher?", disse Andréa, defendendo o evento.

Enquanto algumas pessoas esperavam calmamente a sua vez, como Andréa a Gabriel, outros estavam aumentando o clima de desorganização do evento. Finalmente, os organizadores tiveram que pedir ajuda à polícia. Um policial que estava no parque foi chamado para ajudar a por ordem na distribuição de livros. A outra ajuda veio em forma de um guarda municipal que passava pela praça e que também foi convocado a dar sua contribuição e, assim, com a ajuda da autoridade, o evento foi perdendo o caráter caótico e voltou a ser minimamente organizado.
Algumas pessoas saíram dali com até seis livros iguais na mão, enquanto outras foram para casa sem nenhum exemplar para mostrar à família. E ficam as perguntas: Quantas dessas pessoas vão ler o livro que ganharam? Para onde vai o livro depois que terminarem de ler? Segundo José Mauro, cada livro é lido por, em média, três pessoas. Mas se alguém pega seis exemplares do mesmo livro a estatística cai para quanto?



Essa é a fila para ganhar livros

Logística do evento
Em entrevista com a pessoa que teve a idéia e começou o evento há seis anos atrás, José Mauro da Costa, mais conhecido como Zé Mauro, descobri mais sobre como um evento como esse é organizado. Ele contou que seriam entregues cerca de 14.000 livros, sendo desses, 6.000 exemplares de "Perdidos e Achados" - livro de contos -, 4.000 exemplares de "Riscos e Rabiscos" - infantil -, 1.000 exemplares de "Cordel Brasil Real, o outro lado da moeda" - e 2.200 exemplares de outras editoras.

José Mauro também falou sobre a deficiência do governo de ter iniciativas como essa, deixando para um grupo de escritores toda a ação que envolve o evento. Isso porque quem pagou pelo evento que custou R$ 50.000,00 foram o Sesc, que pagou 20%, o Senac, que pagou 20%, e os próprios escritores, que pagaram 60% da conta. Para ele, o número de livros poderia ser 10 vezes maior que se o governo bancasse a conta.

Quem quiser saber um pouco mais esse é o blog do Livro de graça na praça.

Veja álbum de fotos do evento aqui.

7 comentários:

JOÃO RENATO disse...

Pão duragem tem limite. Ficar nessa ai, tomando sol, um calor desgraçado, numa fila quilometrica, pra sair de mao abanando por um livro que ninguem nem sabia qual era não é coisa de gente não.

Visitem SEBOS! Vai ter muito livro lá a dois reais sem precisar passar por essa humilhação!

Alexei Fausto disse...

É, acho que prefiro pagar um pouco pelos livros, mas acho que é doido ter esse tipo de evento, só precisa ser melhor organizado.

JOÃO RENATO disse...

Acho válido dar livro de graça, mas não acho válido torrar no sol pra esperar um que a gente nem sabe o que é.
Se fossem eventos menores, descentralizados, seria melhor.

Taís Toti disse...

fiquei sabendo do caos...
até parece q essas pessoas vão realmente ler esses livros. de todo jeito, iniciativa válida e legal.
joao, q sebo tem livro que preste por 2 reais?

JOÃO RENATO disse...

Não falei que vai ter livro que preste, mas ninguém garante que os que estavam de graça na praça vão prestar rs
Mas tem mto sebo em conta no maletta e no centro.

Lorena Martins Lisboa disse...

eu estava lá
acabei que fiz uma matéria também...
foi ótimo!
beijos flavia!

Flávia Denise de Magalhães disse...

Nem te vi lá!

Manda a sua matéria pra eu publicar ela tb!

E queria publicar a sua matéria que saiu no marco aqui.... será que rola?